sábado, 30 de julho de 2016

A rosa e o orvalho

E, por breve momento, o orvalho cintila
Na ponta da pétala, desequilibrado
Então num átimo sua vontade oscila
Entre brilho efêmero e cair no gramado.

A rosa fascinada, mesmo que tranquila
Àquele broche tão logo foi dispensado
Substitui pelo que o segue naquela fila
Que pra brilho também é vocacionado.

Contudo, há paixão entre a rosa e orvalho
Entre o brilho da gota e o colorido dela
Infelizmente, entre eles não há atalho.

Porque a rosa coquete não é Cinderela
Permanece firme no seu sólido galho
Enquanto pobre orvalho no chão se estatela.

Elas e eles

Mas como dois gêneros de mesma raça
Unidos pra sempre por afinidade e amor
Longe estão que definitiva união se faça
Homem e mulher estando a se contrapor?

Eles, na verdade, têm coesão escassa
Reduzem somente a no sexo se compor
Como a beber e degustar a mesma taça
Onde nada mais interessa seja onde for.

Mas como não existe o almoço de graça
Há, muitas vezes, entre eles um candor
O que os une de mãos dadas na praça.

Mesmo que exista na relação certo calor
Em dado momento esse dito calor passa
Morre sentimento e permanece só a dor.

sexta-feira, 29 de julho de 2016

A Francisco


(A meu amigo, Francisco José)

Algum belo dia durante sua juventude
Foi Hipócrates que o chamou ao mister
Rápido, estudante ainda, tomou atitude
Assumiu que medicina é o que ele quer.

Nada existirá que a vontade não mude
Coerente está disposto ao que der e vier
Inspira-lhe curar paciente como virtude
Seja apenas humano, homem ou mulher.

Contudo o que quaisquer gêneros têm?
O que os une se eles naturalmente são
Justamente órgão que vivo os mantém?

O Francisco até não pensou muito, não
Sabia o que estudar e que seria também
É hoje cardiologista, médico do coração.

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Vida longa, Marlon!

Mas porque o gari constrangido estava,
Apenas por ouvir o seu nome chamado?
Realmente sem saber o que se passava
Logrei aproximar-me e ficar ao seu lado.

O que o tornou uma pessoa meio brava
No entanto sobre seu nome ficava calado:
Brando seguia Marlon e ele não gostava
Reverter queria nome que lhe fora dado.

Assim anelava ter um nome tupiniquim
Nada desse estrangeirismo tão babaca
Daria seu braço por um nome chinfrim.

Ora, serviria até nome de meia pataca
Conquanto não mais manguem de mim!
Álacre, Marlon Brando seu nome ataca.

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Meu livro


Meu rosto que espelho nenhum vê
E o livro aberto na minha cabeceira
Uma paixão molesta não sei porquê
Lençol úmido como ninguém queira.

Ilusão exposta, assim é este destino
Vem ao encontro de minha desilusão
Reflete o desespero de meu desatino
Onde já não se consegue absolvição.

A janela aberta já não mais existe
Bem como o tapete que o voo alçou
E não há qualquer coração em riste

Recuso o corpo com que agora estou
Trago somente essa minhalma triste
O desejo é o fogo que agora apagou.

terça-feira, 26 de julho de 2016

Carregando a vida

Lá vai aquele tempo assim contente
De brincadeiras relaxantes e risadas
Ho! Aquelas juventudes iluminadas!
Que traz boas lembranças prá gente.

Agora, quase no ocaso o corpo sente
Que então percorreu muitas estradas
Teve desilusões e até levou cacetadas
Porém, a vida manda andar prá frente.

E assim, numa existência assaz casta
Não há porque lamentar a desilusão
Pois viver bem, por si somente basta.

Às virtudes deve-se jamais dizer não
Porquanto só o bem, ao mal contrasta
Assim maravilhosos futuros dias virão.

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Viver é lutar

Quando parece que a vida te olha feio
E ocorre que tu não sabes a que veio
E ao redor não consegues atar laços.
Percebo que te faltam apenas abraços.

E perguntas, por que esse vazio adveio?
A humanidade não me quer no seu seio?
Talvez teus os sentimentos sejam lassos
E ao redor de ti inexistam certos espaços.

Não haverá porque desesperar, contudo
No fim do túnel brilha a luz da esperança
Mas a corrida árdua é longa, não te iludo.

Quando estiveres motivado, não se cansa
Este universo em tua volta nunca é miúdo
Basta tenha nos teus poderes, confiança.

domingo, 24 de julho de 2016

Que bicho sou eu?

Sou, um felino que discrição guardo
Meio solitário, carnívoro e africano
Bem veloz, sou rápido como o dardo
Tenho muito medo do ser humano.

Caçar, para mim nunca é um fardo
Antes de correr sempre traço plano
A gazela, atrás da moita eu aguardo
Se ela não disparar entra pelo cano.

Na minha super corrida jamais tardo
E pego minha presa, salvo engano
Porquanto correndo, sou um petardo.

No mundo dos felinos carrego o piano
Para que não lembra, sou o leopardo
Fartura de lucidez num mundo insano.

sábado, 23 de julho de 2016

Ao futuro

Um dia vamos acordar e sumiu o país
Meio aos destroços vagueiam crianças
Porém, a população assim não o quis
Apenas viveu as crenças e esperanças.

Ímpios seres roubaram o quadro e o giz
Sobraram só maracutaias e lambanças
Dizer tão somente: isso aí nada me diz!
Oblitera o futuro onde finge-se bonança.

Futuro será hoje, meu caríssimo amigo
Um presente ajustado, futuro promissor
Tanto bem faço agora, confiante eu sigo.

Utopia não é um melhor futuro compor
Ruim é olhar apenas o próprio umbigo
O melhor é distribuir exemplos e amor.

sexta-feira, 22 de julho de 2016

Estações

De saco cheio, esperando a tal primavera
Que deverá, depois deste inverno, chegar
Sai de vagarinho, como lento viera
É seu plano, pra no verão não azarar.

E cada estação fez aquilo que pudera
Alguma quer frio, outra calor e brilhar
Mas quando uma chega a outra já era
Uma nos traz ventos, a outra mexe no mar.

Para mim, toda estação tem lá sua graça
Pouco se me dá que assado ou assim
Porque cada uma o seu espírito traça.

Dizer quero inverno bem longe de mim
Porque é uma estação feia, sem graça
É uma constatação burra e tão chinfrim.

Do amor e da morte

Doer não dói a fatal morte definitiva
O que dói é deixar essa existência
Apenas o amor, a ceifadeira cativa
Mas amor é sensação, não ciência.

O amor não é vida em perspectiva
Representa paz e correspondência
Ele se traduz numa existência viva
Deixa de aparecer na sua ausência.

Ao deixar de bater qualquer coração
Morre de morte morrida o seu amor
Onde houvera luz, faz-se escuridão.

Reina na intimidade agora uma dor
Toda dor desta terra sente-se então
E não haverá consolo seja onde for.



quinta-feira, 21 de julho de 2016

A fúria dos elementos

E o tempo se apresenta com fúria,
Xucro, violento, bravo e rompante.
Talvez resultado de nossa incúria
Refletindo nossa conduta pedante.

Extremos nos acometem de clima
Mais frio, seca ou calor a cada dia
O pior dos resultados nos colima
Sendo réus/algozes dessa avessia.

Contudo não nos tocamos, parece
Levamos irresponsabilidade na boa
Indiferentes ao resultado que viesse.

Mas enquanto nosso tempo escoa
A fúria desse mau tempo acontece
Sair pela rua? somente de canoa.

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Tempos novos

Em tempos não tão distantes assim
A vida bem mais simples era, então
Não que fosse pior ou menos ruim
Era boa como as boas coisas o são.

Jogar conversa fora num botequim
Encarar olho no olho sem agressão
E relações eram o meio, não o fim
Andar sem pressa, evitar confusão.

Agora, nesses tempos apressados
De nada adianta gastar o seu latim
Ninguém liga, pois está estressado.

Desapareceu a humanidade, enfim
Dos que caminham ao nosso lado
E tudo se resume a um olá chinfrim.

terça-feira, 19 de julho de 2016

Finalmente a solução!

Veículo infrator - farois apagados

O trânsito de nossas estradas mata
Sob quaisquer aspectos que se olhe
Fabrica cadáveres, esta via burocrata
A cada dia, segurança mais encolhe.

Realmente, mata mais que a guerra
Óbvia, via rápida para um cemitério
Isto por certo, ensinamento encerra
Sobre onde se encontra tal mistério.

Agora, a autoridade ultra antenada
Concebeu lei para o povão indefeso
Em um lance que custa quase nada
Simplesmente o cidadão sairá ileso.

O que resolve pra sempre a parada?
Só conduzir com o farol baixo aceso!

segunda-feira, 18 de julho de 2016

“Longe é um lugar que não existe”


Bem prá lá do infinito, na lonjura
Um lugar que jamais se alcança
Mas que o vate sempre procura
Movido por custosa esperança.

Portanto é um lugar que existe
Embora à distância desafiante
Quando nossa vontade persiste
Qualquer óbice não é bastante.

Vamos pois por o pé na estrada
E acompanhar acelerado vento
Esperando tudo ignorando nada.

Não nos liguemos ao desalento
Enfretemos então essa parada
Pois viver é questão de momento.

domingo, 17 de julho de 2016

Que bicho sou eu?

Celacanto

Peixe esconso na absoluta escuridão
Fico escondido no tempo, enquanto
Os demais seres vivem a evolução
E eu permaneço aqui no meu canto.

Mas o ser humano disse: assim não!
Vamos violar, quebrar esse encanto
Pra isso, valha-nos o melhor condão
Mergulhemos na busca dele, portanto!

E mergulhadores ao meu reduto vão
Por fim, resolutos, levantam o manto:
Olhe aqui, imenso e estranho peixão!
Descoberta que me deixa em pranto.

Assim foi que findou minha reclusão
Porque sou o quase extinto Celacanto.

sábado, 16 de julho de 2016

Sexo é para todos


Se acha que velho, sexo não mais faz
E que certamente perdeu todo o tesão
Xô mané, saiba que vovô é ser capaz,
Ousado e vigoroso na zona do agrião.

Graças àquela alentada experiência
Ele, o velho, sempre mandando bem
Não tal um jovem, mas com tenência
Ávido não o é, mas não vem que tem.

Rindo-se, ele explica que é um sujeito
Inclinado a só fazer sexo oral, porém
Obrigado a dirimir algum preconceito
Somente fala mas não come ninguém.

sexta-feira, 15 de julho de 2016

O fim está próximo

A turrona vê seu mandato à distância
Quem estava fora, agora está dentro
Tudo por causa da sua vil arrogância
Saiu esquerda burra, entrou o centro.

Ela fazia do Planalto, própria estância
E do poder, seu partido era epicentro
Para ela a nação não tinha relevância
Como não o tem pra muitos o coentro.

Por incompetência, acordo não fazia
E então agora a esquerda nada herda
A burra cheia de raiva e a mão vazia.

Pois chora as pitangas por sua perda
Em uma tempestade que jamais estia
O pindorama que era feliz virou merda.

quinta-feira, 14 de julho de 2016

À idade

A regra é, a idade nos dará sapiência
Tanta quanto nossa responsabilidade
Assim, embora a vida não seja ciência
Labor e estudo conduzem à verdade.

Mas para maturar há que ter tenência
Aceitar desafios e gozar de liberdade
Tudo considerar com boa consciência
Um preço módico pela tal maturidade.

Reiterar sempre o que se tem certeza
Incorporar porém as novas tecnologias
Deixar simplesmente esperança acesa.

A idade nunca vai nos cobrar ousadia
De fato, sequer trará alguma surpresa
Ela apenas confirmará o que se previa.

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Acróstico

Fazendo-se supremos donos da verdade
Um bando de religiosos neopentecostais
Nutrem ódio às minorias desta sociedade
Dando-lhes escrotos rótulos de anormais.

Assim, em nome duma suposta divindade
Metem o bedelho nos costumes e que tais
Encontram somente virtude na irmandade
Néscia, dura e intolerante com os demais.

Tais fundamentalistas enxergam maldade
Assim como desregramentos conceituais
Ladeando toda essa incauta humanidade
Inclusive os desvios de conduta e sexuais.

Se veem tal como perfeitos ícones de jade
Missionários tão esclarecidos sem os quais
O humano sucumbiria à sua bestialidade.

terça-feira, 12 de julho de 2016

Recado

Chovendo lá fora, eu aqui prisioneiro
Há na chuva a premência aborrecida
Uma mandona neste planeta inteiro
Vem, molha o chão e aborrece a vida.

Age mansa, diluvial ou em aguaceiro
Alivia estiagem, mas quando incontida
Benfazeja, até árido solo virar atoleiro
O que acaba gerando raiva estendida.

Receio que a chuva está dando recado:
Revejam, seres egoístas, seus valores
E vejam que este paraíso nos foi dado
Contudo, agora são néscios poluidores.

Ignoram o futuro, presente e passado
Deixam tudo como teatro de horrores
Agora, me vejo chovendo no molhado.